domingo, 2 de dezembro de 2012

Hoje é dia de fantasia: Privação de sentidos

Bem, depois da volta em caráter excepcional, cá estou de volta com a corda toda, falando do que eu mais gosto de falar e que vocês mais gostam de ouvir: putaria (de alta qualidade, claro). Fiquei matutando aqui sobre com que assunto eu abriria este retorno do blog e acabei de lembrando de uma experiência recente e interessante, que me fez pensar em uma coisa que eu não pensava faz tempo: privação de sentidos.
Não pensava porque por muitos anos essa foi uma coisa que eu sempre odiei. E daí eu digo, meus caros, nada como o tempo para nos ajudar a quebrar paradigmas e nos permitirmos novas experiências. E isso vale até mesmo para mim. Faz parte disso também se permitir algumas coisas que você acaba travando em algum momento. Não é porque uma experiência foi ruim um vez que será sempre, tudo depende do contexto. Mas já deu de introdução ao assunto, vamos ao que realmente interessa!



Privação de sentidos

Sentidos, a nossa mais incrível forma de perceber e vivenciar o mundo. Eu sou fã master dos sentidos e mesmo por isso a privação dos sentidos tem um poder muito forte sobre mim. Explicando, quando você priva alguém de um dos sentidos tecnicamente todos os outros sentidos ficam mais despertos. Além disso, a pessoa fica vulnerável. Para entrar nessa brincadeira, então, confiança é fundamental, caso contrário a pessoa que está sendo privada dos sentidos não irá conseguir se entregar e o negócio não vai ficar tão legal.

Vamos agora dar uma passada básica pelos principais tipos de privação de sentidos e suas possibilidades.

Privação da visão



De longe a privação da visão é a que mais pega a maioria das pessoas. Isso porque vivemos em uma cultura muito visual e estamos completamente acostumados a nos guiar pela visão, dando pouca importância para os outros sentidos.
Não tem muito segredo, para privar alguém da visão é só vendar a pessoa. Pode ser com uma venda, com um lenço, uma gravata, uma camisa, um pedaço de pano, qualquer coisa. É claro, se você usar uma daquelas máscaras para dormir a pessoa vai conseguir ver! Então é necessário que seja feito com alguma coisa que realmente impeça a visão, senão vai ser só uma coisa incomodando e mais nada.
CUIDADO: não vai amarrar a cabeça da pessoa com força demais! Vai machucar e vai causar um incômodo extra. Seja coerente.

A provação da visão pode ser combinada com privação de olfato. Vou colocar junto porque a categoria privação de olfato é bem menos explorada. Combinadas, como, você deve estar pensando... então: ao vendar os olhos você poderá também cobrir o nariz. Pra isso, é claro, você precisa ter certeza que a pessoa consegue respirar bem pela boca. Fora que essa privação não deve ser mantida por muito tempo, por causa da respiração. Outra opção são as máscaras (aquelas clássicas de filmes BDSM) que podem tampar o nariz e os olhos ao mesmo tempo, funciona muito bem, mas não é MESMO pra qualquer um, tem que ter prática e tem que ter certeza que curte.

Privação do movimento da boca

Veja, não vamos aqui falar de privação de paladar que seria uma coisa bem sem sentido. Falando da boca, esse lugar delicioso e cheio de possibilidades, o que cabe é a privação de movimentação da boca, que pode se dar por uma mordaça, uma ballgag ou uma mouth gag com abertura. Eu nunca usei nenhuma das três coisas, então fica mais difícil de opinar, ainda assim caso eu usasse (em mim ou na outra pessoa), preferiria mil vezes uma mouth gag que deixa a boca aberta, porque ao colocar uma ballgag ou uma mordaça a pessoa perde completamente a possibilidade de usar a boca.
Usando o modelo que deixa a boca aberta, mas sem nada no meio, você poderá usar a boca como quiser. Ou seja, você vai poder meter seu pau loucamente na boca da pessoa ou você vai poder sentar na boca da pessoa pra ser chupada loucamente. A sensação com certeza é diferente, mas deve ser interessante.

Privação de movimento dos membros



Este é um lindo campo do fetiche, lindo mesmo. É onde os mestres do bondage exercitam as suas habilidades com louvor. Eu que não sou mestre em bondage, se for pra privar alguém de movimento costumo usar ou algemas ou cordas. É claro que dá pra improvisar com virtualmente qualquer coisa. Basta ter um pouco de criatividade.
O grande barato de amarrar alguém é que a pessoa fica indefesa, entendam bem, indefesa no sentido de completamente disponível para desfrutar do prazer que você irá proporcionar. Não vá usar isso pra fazer algo que a pessoa não queira, NUNCA!
Privação de movimento oferece milhares de possibilidades. Amarrar as mãos, que é o mais clássico, fará com que você tenha um controle sobre a movimentação da pessoa, o que pode ser interessante para várias práticas. Amarrar as pernas, principalmente se abertas, é uma maravilha para penetrações profundas e deliciosas. Mas para amarrar as pernas abertas tem que ter onde amarrar, portanto não é sempre que é possível fazer. Um separador de pernas pode ser uma boa ideia. Na falta serve cabo de vassoura ou qualquer pedaço de madeira.
Se você realmente se interessar pela privação de movimentos eu aconselho procurar maiores informações em sites especializados em BDSM, eles são bem mais técnicos do que eu, eu estou nessa só pelo prazer.
CUIDADO: Se for usar cordas, cordas de algodão são as mais indicadas. Se for usar algemas muito cuidado para não apertar demais. Aliás, seja o que for, nunca aperte demais, Segurar a circulação não é uma boa ideia. Cuidado sempre para não machucar, pergunte se a pessoa está se sentindo confortável, saiba brincar!


Outras possibilidades...



Privação de audição é algo que me parece ser interessante, mas que também nunca tentei. A audição é um sentido muito importante, principalmente para manutenção do equilíbrio, portanto, ser privado dela causa uma sensação estranha, de mergulho dentro da situação sexual, um mergulho profundo. Além de privar a pessoa da audição uma possibilidade é fazer uma imersão em um som específico, colocar fones de ouvido com algum som em um volume bem alto. Pode ser uma música ou pode ser um padrão sonoro. Isso pode induzir diversas sensações e viagens diferentes, se alguém tentar, me conte!


AVISOS FINAIS:
Bom senso, bom senso, bom senso! Sempre!

E quem aí é fã de privação de sentidos? Quem tem história para contar?


sábado, 1 de dezembro de 2012

50 tons de repressão sexual

Eu pensei que jamais voltaria a escrever neste blog, por uma série de motivos, que talvez um dia eu paute. No entanto, a revolta com o assunto do momento me fez retornar. É claro que eu poderia estar escrevendo em qualquer um dos meus outros espaços (para mais sobre meu trabalho, leiam http://apalavrista.blogspot.com.br/). Mas é essencial que este post seja lido, portanto, nada melhor do que ele estar entre outros do mesmo elemento: sexo.



E o assunto é esse mesmo, o tão falado 50 tons de cinza. Eu não li o livro, não pretendo ler, e vou escrever sem ter lido. Minha discussão, afinal, não é sobre o livro e sim sobre a leitura do livro e sua repercussão.

Primeiro: parem de crucificar as mulheres que estão lendo o livro. Por favor! Sabemos sim que o livro possui diversos pontos, questionáveis. Não vou entrar em cada um deles porque vocês devem ter lido isso aos montes por aí, mas falar mal do livro é muito diferente de falar mal de quem lê o livro. Este livro está sendo um grito, um grito de liberdade para muitas mulheres. É fácil pra mim, pra muitos de vocês, falar que o livro é ruim. Eu leio "literatura erótica" (e putaria escrachada) desde o início da minha adolescência. Este assunto não é novidade, nunca me foi negado e absolutamente me interessa. A questão é que sou uma entre milhares. Para a maioria das mulheres, ler sobre sexo sempre foi um enorme tabu, quase impossível de ser transposto. Neste aspecto o livro é sim uma enorme quebra de paradigmas.



Segundo: "Mas como assim elas estão gozando com essa babaquice?" Gente, elas ESTÃO GOZANDO! Por favor! ELAS ESTÃO GOZANDO! Ouviram bem? Imagine que merda de vida sexual uma parcela enorme das mulheres tem para estarem sentindo prazer com uma história dessas. Desculpem os que curtem culpabilizar o indivíduo, mas isso é um sinal cabal de que a vida sexual das mulheres é uma merda. E isso, meus caros, é culpa de uma sociedade que nega o prazer a todos, mas principalmente às mulheres. Eu estou mais do que acostumada a confrontar esta realidade, quando vejo que, mesmo longe do ritmo que eu gostaria, minha vida sexual foi e é mais rica e diversa do que a soma da vida sexual das mulheres que eu convivo, independentemente da idade.



Terceiro: Está tudo errado, mas ainda assim é sobre transgressão e fetiche. Gente, ok, eu conheço muito bem o mundo do BDSM, sei que praticamente tudo no livro é completamente condenável e que nossos amigos bdsmistas estão "em polvo rosa". Eu super concordo com tudo isso. Ainda assim, quando antes na história deste mundo ouviu-se falar tanto em fetiches? Há quem diga que é melhor não saber que existe, do que ter uma concepção errado do BDSM. Eu acho que não. Simplesmente porque sabendo que existe, 5 minutos procurando na internet a pessoa já vai ver que não é bem por aí e vai se abrir pra viver coisas muito gostosas. Sério, gente, muito sério: a maioria das pessoas nunca faz nada de diferente na cama. Triste, muito muito muito triste, mas absolutamente real. Tem mulher que quando faz ou recebe sexo oral é o acontecimento do século, tipo, uma vez por ano e olhe lá. Essa é a realidade da cama da maioria das pessoas.

Quarto: É machista pra caralho sim, mas não venham culpar o BDSM. Ok, vocês sabem que eu sou feminista, disse isso desde o primeiro post. É óbvio e evidente que o livro é de um machismo absurdo, principalmente por tentar mostrar que uma mulher faz qualquer coisa por dinheiro, inclusive entrar num relacionamento abusivo. Mas só não venham dizer que é machista por conta do BDSM. Sei que é um pouco difícil essa compreensão por algumas vertentes do feminismo, mas o jogo de dominação e submissão do BDSM não é anti-feminista. Eu mesma, que sempre me disse dominadora (o que era bem coerente com minha postura feminista e tudo mais), hoje em dia assumo que gosto sim de ser dominada. É um contexto sexual. É fetiche. É explorar diferentes sensações e prazeres com alguém. Gente, falou de novas possibilidades de prazeres, desde que envolvam adultos que estejam de acordo, cai dentro! Se alguém utiliza de uma desculpa BDSM para impor coisas que você não quer este alguém é babaca, indiferentemente de qual sua filosofia sexual. E babaca tem em todo lugar e temos que ficar espertas SEMPRE.



Quinto: Não gostou? Que tal fazermos melhor? Eu também não gostei, mas acho que também cabe a nos escritores e ao público desenvolver literatura erótica de qualidade, coisa que não vemos muito mais por aí. Claro, podemos citar diversos grandes escritores na história. Eu amo Marques de Sade, amo Anaïs Nin e uma ou outra coisa que não me lembro bem agora. Tem coisa boa erótica sendo escrita? Estou perguntando sinceramente, porque eu não conheço nada. E, mesmo eu, escrevo uma literatura erótica de qualidade mas não divulgo, então, no que estamos contribuindo pra mudar isso?



Enfim, meus caríssimos, pensemos sobre tudo isso. E, a cima de tudo, muito cuidado para não transformar seu discurso que deveria ser politizado em um discurso de opressão, não culpem os leitores, é o mesmo erro que cometemos a culpar os eleitores, a culparmos as vítimas, ao culparmos todas as vítimas, em diferentes esferas.